26/11/2008

Oremos

Todos os anos por esta altura, começam as calamidades provocadas pelas chuvas. Centenas de pessoas morrem, milhares ficam desabrigadas e perdem boa parte dos seus bens que levaram anos de trabalho para conseguir comprar. Desesperadas, ficam à mercê da caridade alheia. Governantes vêm para os meios de comunicação afirmar que foi a maior chuva dos últimos "n" anos, a população se mobiliza, envias toneladas de alimentos, colchões e agasalhos, as Tvs fazem amplas coberturas, os governadores de estado e o Planalto liberam verbas para a reconstrução e, dois meses depois, não se fala mais nisso até ao... próximo verão, quando tudo se repete com uma pontualidade invejável!

Este ano, por enquanto, Santa Catarina foi o estado mais atingido, mas esse mesmo filme já aconteceu em praticamente todas as unidades da federação! Petrópolis, Campos, Recife, Teresópolis, S. Paulo e Vitória são figurinhas repetidas nesse álbum de incúria administrativa que nos assola com a mesma frequência das chuvas: isto é, todos os anos!

Decretado, nessas ocasiões pelos governantes, o estado de calamidade pública que nos assola é bem outro: É este modelo de governança que se implantou neste país, com a degradação constante dos quadros da administração pública.

O planejamento de longo prazo inexiste! Ninguém pensa este País, ou Estado, ou Município para daqui a 20, 30 anos! O horizonte maior do planejamento da ação pública (quando o há) não ultrapassa nunca os limites de um mandato.

Cada governante eleito quer "deixar a sua marca", e torra o dinheiro de nossos impostos em obras visíveis, muitas vezes de gosto duvidoso, e , sempre, de prioridade questionável!

O trabalho constante, necessário, de formiguinha, que poderia minimizar as tragédias provocadas pelos fatores climáticos e melhorar a qualidade de vida da população, nunca é feito porque não aparece. Dragar rios, instalar e manter limpas as redes de esgoto doméstico e de águas pluviais, coletar permanentemente o lixo, não permitir a ocupação de morros e de margens de rios, fazer contenção de encostas, são atividades encaradas pelos poderes públicos com o mais absoluto desdém!

Uma outra vertente do problema é o desmonte que foi sendo feito ao longo dos anos da carreira do funcionalismo público. Com baixos salários, sem treinamento, sem perspectivas, o funcionário concursado desde há muito (salvo raríssimas exceções) está absolutamente despreparado, e, pior, sem nenhum estímulo para exercer a sua função. Os cargos mais altos das administrações sempre lhe são negados, pois há que acomodar os cupinchas que, ou ajudaram nas campanhas, ou são indicações dos partidos da base de sustentação. Geralmente de uma incompetência lapidar, estes últimos não têm nenhum compromisso com a boa administração pública. Sabem que têm quatro anos para se "arrumar", ao final dos quais voltam para as suas ocupações privadas. Não raro, os salários destes cargos, ditos de confiança, são algumas vezes mais altos do que os dos funcionários concursados!

É mais caro remediar as tragédias do que preveni-las? É claro que sim, mas isso não perece importar aos luminares que nos governam.
Mais gente morre, ou fica na miséria, no desespêro? Infelizmente sim, mas, meses depois tudo não passará de mera estatística, que será brandida, na catástrofe seguinte, ao sabor dos interesses eleitoreiros do momento!

Neste modelo, de nós cidadãos, só lhes interessa a nossa capacidade de pagar impostos e, de tempos em tempos, o nosso voto.

Definitivamente, para o governo, nós não somos pessoas, somos números e cifrões!

Até quando!?

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