19/03/2008

Panis et Circenses?

Li essa semana uma reportagem na revista Rolling Stone (nº. 18, março de 2008 – “Vida Pop”, por Miguel Sokol, p. 26) bastante pertinente.
Comentando a passagem de Bob Dylan pelo Brasil, a reportagem criticava os preços extorsivos dos shows e espetáculos culturais, bem como sua banalização – teriam se transformado em passarelas para desfile de “celebridades”.

De fato, enquanto os famosos de plantão divertem-se e exibem-se nos camarotes, bebendo, comendo e fazendo a famosa social – tendo ao fundo, como cantores de churrascaria, Bob Dylan, The Police, U2, Roger Waters e outros (ganha uma maria-mole o VIP que conhecer mais de duas músicas de qualquer deles), os reles mortais têm que pagar fortunas para poder vê-los de perto e sem binóculos, espremidos na multidão.

As empresas organizadoras dos eventos, ante a obrigatoriedade do meio-ingresso para estudantes, saem-se à brasileira e dobram o preço dos ingressos. O estudante, na verdade, paga o preço inteiro, e o não-estudante, o dobro. Botam a culpa nos cambistas e nos “estudantes” falsificados. O Estado bate no peito pela criação da lei que obriga o meio-ingresso para os estudantes, mas lava as mãos quanto aos preços. Belo incentivo à cultura!

Fica aqui meu apelo aos organizadores e fiscalizadores de tais eventos: enquanto for assim, por favor não se dêem ao trabalho de trazer boas bandas ou cantores. Vão deixar a mim e a milhares de apreciadores com água na boca. E teremos que nos contentar com a churrascaria (enquanto isso, no rodízio: “Garçom! Manda esse Sting aí cantar mais baixo! Não se pode nem conversar direito aqui...”).


0 comentários:

 
Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.