17/05/2009

Zé Dirceu, o Mercador de Dossiês e o jeito asqueroso de o PT fazer "política"

Leiam a esclarecedora reportagem. Comento o "esquema" ao final:


Mercador de dossiês volta a Brasília

RODRIGO RANGEL - Agencia Estado

BRASÍLIA - Personagem do submundo dos dossiês, com trânsito livre entre petistas, o lobista Nilton Antônio Monteiro ganhou notoriedade em 2005 como encarregado da divulgação da "lista de Furnas" com supostas doações do caixa dois da estatal do setor elétrico nas eleições de 2002 - a maioria delas para políticos do PSDB e do DEM. Processado pela produção de dossiês, Nilton submergiu.

Agora, às vésperas do ano eleitoral, o lobista reapareceu com o mesmo script: na quinta-feira passada, depois de se reunir com advogados que fizeram a ponte com o ex-ministro José Dirceu (PT), Monteiro desembarcou em Brasília, carimbou papéis em um cartório, visitou o gabinete da senadora Ideli Salvatti (PT-SC) e fez chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Ministério Público Federal "documentos" com o objetivo de ressuscitar a controversa "lista de Furnas".

Um dos documentos desperta incredulidade: é um recibo de caixa dois ( uma folha avulsa de papel ofício, com oito linhas do que seria um recibo assinado em 20 de setembro de 2002 pelo atual presidente do DEM, o deputado Rodrigo Maia (RJ). Nele, Rodrigo Maia atestaria o recebimento de R$ 200 mil de Dimas Fabiano Toledo, à época diretor de Engenharia de Furnas, dos quais R$ 50 mil teriam sido repassados à campanha do hoje governador de São Paulo, José Serra, à Presidência da República).
Um documento típico da abertura da temporada de dossiês destinados a alimentar o submundo da campanha presidencial de 2010.

Famoso mercador de dossiês, Nilton Monteiro foi acusado de falsário nas investigações do mensalão, quando trouxe à baila a "lista de Furnas". É investigado pela polícia e responde a mais de 200 processos movidos por políticos cujos nomes aparecem na lista. As aparições do polêmico lobista com seus igualmente polêmicos documentos ocorrem, quase sempre, em períodos pré-eleitorais. O que chama atenção é que, desta vez, Nilton Monteiro tem procurado se aliar a parceiros de peso no mundo da política - parceiros, por sinal, com todo interesse em fomentar a suspeita que os documentos do caso Furnas lançaram sobre tucanos e democratas.

Hoje, a aliança mais vistosa de Nilton é com ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu.Nas últimas semanas, Dirceu se encontrou pessoalmente, por duas vezes, com parceiros de Nilton (leia abaixo) e destacou seu braço direito, o advogado Hélio Madalena, para cuidar dessa relação. Tanto Dirceu quanto Nilton negam a aliança. É inegável, porém, que foi depois dos contatos com o ex-ministro que o lobista voltou à carga, mais de três anos após a confusão que o caso Furnas gerou na CPI dos Correios, onde o mensalão foi investigado.

Na quinta-feira, o jornal O Estado de S.Paulo acompanhou os passos de Nilton Monteiro em Brasília. Já era final da manhã quando ele desembarcou de um avião de carreira, vindo de Belo Horizonte. Tinha a seu lado um homem bem vestido, bolsa Louis Vuitton a tiracolo. O homem, identificado como Jadson de Paiva Cunha e classificado por Nilton como seu "parceiro", acompanharia o lobista durante todo o seu périplo pela capital.

Ainda no aeroporto, Nilton sacou de sua bolsa uma lista com nomes de assessores do ministro Joaquim Barbosa, do STF, a quem deveria procurar. E foi justamente o prédio do Supremo, na Praça dos Três Poderes, o primeiro destino do lobista - antecedido por uma rápida passagem por um cartório de notas, na quadra 504/505 Sul, para autenticar cópias do documento. No gabinete de Barbosa, Nilton Monteiro não conseguiu ser atendido pelo ministro, mas deixou protocolada uma das cópias. Queria anexar o original, mas os assessores de Joaquim disseram ser norma da casa não receber originais.

A ideia de Nilton Monteiro - ou de seus "parceiros", como ele mesmo define - é tentar convencer o ministro Joaquim Barbosa de que o caso Furnas teria conexão com o chamado "valerioduto mineiro", o esquema montado em 2006 pelo empresário Marcos Valério de Souza para irrigar a campanha de Eduardo Azeredo, então candidato tucano ao governo de Minas Gerais. Detalhe: nesse caso, foi o mesmo Nilton Monteiro quem apareceu com os documentos que deram origem ao escândalo, cuja receita seria repetida anos depois, com o mesmo Marcos Valério, no mensalão petista. Nilton, nos anos 90, foi aliado dos tucanos mineiros que dirigiam Furnas.


A suspeita de que José Dirceu esteja por trás dos movimentos de Nilton Monteiro está baseada em encontros recentes do ex-ministro petista com a turma do lobista mineiro. No último dia 26 de março, Dirceu encontrou-se em Belo Horizonte com o advogado William dos Santos, fiel escudeiro de Nilton.

O encontro se deu no hotel Mercure, no bairro de Lourdes, após uma reunião de Dirceu com lideranças do PT mineiro. "Na conversa, ele (Dirceu) falou que o Hélio Madalena iria me procurar", disse William ao Estado, em conversa gravada. Semanas antes do encontro em Belo Horizonte, Dirceu recebeu William em São Paulo. William também diz ter tratado do assunto com Madalena, conforme orientação do ex-ministro.

Hélio Madalena, ex-assessor de Dirceu na Casa Civil, é homem de extrema confiança do ex-ministro. É a Madalena que Dirceu delega tarefas mais sensíveis. Na investigação da PF sobre o magnata russo Boris Berezovski, por exemplo, Madalena acabou caindo no grampo - apareceu como um dos artífices da articulação montada por Dirceu para convencer o Planalto a dar asilo a Berezovski, às voltas com a Justiça de Moscou.

Procurado pela reportagem, Dirceu não quis dar entrevista. Por meio de sua assessoria, ele confirmou os encontros com o advogado de Nilton Monteiro, mas negou participação na operação-dossiê "lista de Furnas". Hélio Madalena também negou envolvimento com o assunto.

A visita de quinta-feira a Brasília não foi a única passagem recente do lobista pela capital. Em 18 de março, ele aterrissou na cidade para deixar outro papel, que também seria um "recibo". O documento, em nada inédito - o mesmo Nilton já havia tornado público esse papel -, relaciona supostas doações do caixa dois de Furnas a políticos do Espírito Santo, nas eleições de 2002. No suposto "recibo" também há referência a José Serra - uma mostra de que o tucano, pré-candidato ao Planalto, é o alvo preferencial das denúncias arquitetadas por Nilton e seus "parceiros". Diz que uma parte das doações, R$ 1,05 milhão, teria sido destinada à campanha de Serra a presidente, na chapa com a deputada capixaba Rita Camata de vice. O documento foi remetido ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.

Ao Estado, quando já se preparava para voltar para Belo Horizonte, na quinta-feira, Nilton disse que não teme ser acusado novamente de falsário.''Os documentos me foram entregues pelo Dimas Toledo. Eu entreguei ao Ministério Público os originais, que podem ser periciados."

O lobista negou que esteja sendo pago pelo PT, mas admitiu que nas duas vezes que esteve em Brasília teve suas passagens aéreas pagas por um político do PT mineiro, cujo nome não quis revelar. "Depois que eu fui acusado de tudo, na época da CPI, resolvi tomar providências e fazer o que deve ser feito." Nilton afirmou não ter "relação nenhuma" com Dirceu. "O Zé Dirceu tem a vida dele pra lá." Sobre a visita ao gabinete da senadora Ideli Salvatti (PT-SC), afirmou: "Tenho simpatia por ela".
O esquema de denúncias, que o PT cansa de usar, funciona assim: um parlamentar petista (no caso foi procurado "um berreiro à procura de uma idéia") acusa, um jornalista marron publica, o Ministério Público faz a denúncia. Ou, um mensaleiro qualquer faz a acusação, o Ministério Público abre a investigação, e o conteúdo sigiloso é repassado ao repórter como “furo”. Ou ainda, um mensaleiro passa a história para o repórter, que publica como se fosse matéria de sua lavra, que leva às tribunas "o surpreso congressista mensaleiro portador de uma denúncia grave", já articulado com o Ministério Público e , de uns tempos para cá, a Polícia Federal do B (perdão, do PT). Hoje o esquema ainda conta com o inestimável apoio do Ministro da Propaganda e sua rede de desinteressados anunciantes de órgãos governamentais e/ou de empresas públicas!

0 comentários:

 
Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.