O poeta Philip Larkin resumiu o problema em "This be the verse", a composição poética que lhe custou o título de "Sir" pelo uso de linguagem chula nos primeiros versos. Injusto, Majestade. Com "They fuck you up, your mom and dad", Larkin não se limitava a explicar a forma como os pais tendem a arruinar a vida dos filhos; Larkin vai mais longe e explica que a culpa não é inteiramente dos pais: eles limitaram-se a ter a vida arruinada pelos avós, e os avós pelos bisavós, e por aí fora. Mas arruinada com quê?
Com as expectativas envenenadas que os pais tendem a colocar sobre a descendência, sobretudo na vulgar sociedade meritocrática em que vivemos. Olho para os meus amigos, alguns deles pais. E não deixa de ter o seu encanto a forma como eles usam os filhos para compensar frustrações privadas. As crianças não são crianças, destinadas a crescer, aprender, acertar, falhar e, sobretudo, procurar. São antidepressivos que servem para aliviar os fracassos dos progenitores: se os pais não ganharam o Nobel, eles esperam ansiosamente que os filhos cumpram a missão. O bom nome da família depende disso.
E o cenário tende a piorar, segundo Adam Philipps, um conhecido psicanalista britânico que, além de cultura literária suprema, tem a honestidade de não apresentar a "felicidade" como artigo de marketing. Em texto para a revista "Prospect", Phillips critica a ambição do governo inglês (e, a prazo, dos vários governos europeus) em ensinar "Felicidade" como disciplina escolar. Para Phillips, ainda que a "Felicidade" fosse matéria ensinável (obviamente, não é), aulas de "Felicidade" acabariam por gerar resultados perversos, sobretudo entre os alunos mais "relapsos". A ideia totalitária de que só vidas felizes valem a pena ser vividas transforma os "infelizes" numa nova classe de leprosos morais.
Para Philipps, uma vida educada não serve para nos tornar mais felizes. Serve apenas para que as pessoas possam suportar a infelicidade e receber o seu oposto quando ele acontece. Mas quem está disposto a este programa mais modesto? Não os meus amigos. Eles correm para o psicanalista ao mesmo tempo que preparam os filhos para os psicanalistas de amanhã.
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